Existe
um ditado já antigo no léxico pedagógico que diz que “bem perguntar é bem
ensinar”. Na verdade, para um bom professor, tão importante como dar respostas
correctas, é fazer perguntas adequadas, suscitar problemas para os quais possam,
depois, haver respostas apropriadas. Foram as pessoas com espírito inquiridor,
que viram problemas para resolver onde os outros os não viam, que fizeram
avançar a humanidade.
Uma
pergunta bem feita vai exigir de quem responde a elaboração de um raciocínio em
conformidade com aquela. Vários têm sido os estudos que se têm debruçado sobre
esta temática os quais, cada um à sua maneira, tentam fazer o seu modelo que
possa, depois, ser aplicado à sala de aula.
Nestas
mesmas crónicas tive já oportunidade de falar da taxonomia de objectivos
cognitivos de Bloom, a qual veio, mais tarde, inspirar um modelo para a elaboração
de questões (Sanders). Se estas, na sua grande maioria, se limitam a determinar
o que se memorizou, o que se conhece,
no seu nível mais básico, por exemplo, saber
a percentagem da população dos Açores que vive da agricultura, muitas
outras poderiam ser feitas, explorando níveis de cognição mais elevado.
Se
apresentar um gráfico que relacione as temperaturas com a altitude, na Ilha do
Pico, mediante uma extrapolação, os
alunos estão em condições de responder sobre qual o valor plausível da
temperatura para dada altitude não referenciada no gráfico.
Indo
mais longe na exploração do campo da cognitivo, seria possível, por exemplo,
solicitar-se, a partir de um texto que referisse um acontecimento, seja ele na
Física, História, Ciências da Natureza…, com elementos importantes e outros
dispensáveis e várias hipóteses explicativas para o mesmo, que fosse analisado o referido texto, tentando
distinguir quer os dados relevantes, quer os não relevantes, quer as hipóteses.
Avançando
ainda mais, solicitar-se-ia, por exemplo, a alunos do 4º ano que, a partir de
vários números apresentados, na sua representação decimal e fraccionária,
elaborassem um problema. A resposta adequada implicaria uma operação de síntese em que eles, a partir de vários
elementos, teriam que os agrupar de modo a dar-lhes um todo coerente.
Poderia,
ainda, propor aos mesmos alunos que elaborassem um juízo de valor, apresentando, por exemplo, as vantagens da
utilização do quilómetro.
Muitas
destas questões suscitariam mais interesse se fossem discutidas em grupo e,
depois, cada grupo apresentasse as conclusões a que tinha chegado, gerando-se,
assim, a discussão em plenário.
Enfim,
a capacidade de iniciativa do professor, mitigada pelo bom senso, não deve ter
limites quando posta ao serviço da aprendizagem dos seus alunos.
Mário Freire