quarta-feira, 30 de abril de 2014

O NEOLÍTICO - UM RENASCIMENTO CULTURAL


A sedentarização teve certamente consequências intelectuais importantes, primeiro porque facilitou, ou mesmo promoveu, o estabelecimento das primeiras estruturas nas pequenas comunidades fixas, e com elas as primeiras necessidades de preservação do grupo e da sua memória. Certamente se pode incluir aqui a defesa do grupo, as suas estruturas fortificadas, e a necessidade de resolver a questão dos mortos que agora ocorre no mesmo espaço de residência dos vivos. Não admira pois que uma parte apreciável destas grandes estruturas de pedra lhes seja dedicada, isto é, sejam de natureza funerária para enterramentos individuais ou colectivos. São as Antas ou Dólmens que conhecemos por todo o Portugal, mas cuja concentração no Alentejo Central e no Alto Alentejo se destaca pelo elevado número que atinge os vários milhares de unidades.


Simultaneamente ao se fixar num espaço onde decorre a sua actividade o grupo adquire uma noção de centralidade. O seu lugar é o centro do mundo, e é onde volta sempre que a necessidade de sobrevivência requer incursões fora desse lugar muitas vezes de ritmo sazonal, para procurar alimento onde sabe existir. Este facto requer uma capacidade de “navegar” no território envolvente reconhecendo marcas e sinais específicos. A sua actividade começa a ter, cada vez mais, componentes intelectuais que lhe alargam o entendimento do mundo que o rodeia. Mesmo o sol e a lua que sempre o acompanharam no nomadismo adquirem agora outra dimensão. Fixo no centro do seu mundo, a paisagem envolvente torna-se-lhe proeminente.
O céu, onde o sol, a lua e as estrelas se manifestam, faz agora parte dessa paisagem e não pode deixar de reconhecer os ciclos que ocorrem neste “território” cósmico. Vive agora entre dois territórios separados por uma linha mágica, o horizonte, que nunca consegue ultrapassar. Por mais que caminhe nas planícies, ou suba montanhas, no seu território natural, nunca consegue pôr o pé nesse território inacessível onde se desenrolam fenómenos que não controla mas que condicionam a sua vida.
Para além do ciclo primitivo, do dia e da noite, que já conhecia do tempo nómada, agora que vive o ano inteiro no mesmo local, é-lhe fácil associar o progressivo aumento do frio ambiente com a concomitante deslocação para sul do ponto no horizonte onde o sol nasce, e inversamente o aumento do calor abrasador com a deslocação para norte do nascer do sol. Este temor de morrer de frio se o sol fugir demasiado para sul ou de morrer torrado pelo excessivo calor se o sol se aventurar demasiado para norte, além de reflectir em si uma percepção intelectual importante, provavelmente a primeira concepção cósmica do universo envolvente, terá certamente também desenvolvido o desejo de intervir no sentido de impedir que essas fugas catastróficas possam ocorrer. Na impossibilidade de pisar o território onde os astros se deslocam e desenvolvem as suas actividades, umas nefastas e outras benéficas, nada mais pode fazer do que desejar muito intensamente que nenhum desses males aconteça.
É possível que tenha pensado que se conseguisse representar no seu território a ordem cósmica que observava no céu, não só usando figurações na pedra dos astros intervenientes - bem como implantando marcas com grandes pedras que correspondessem aos limites “aceitáveis” desses movimentos - poderia manter esses astros, em particular o sol, em posições confortáveis para o seu dia-a-dia. Talvez por isso muitas dessas grandes pedras apresentem figuras insculpidas representando o sol ou a lua, e noutros locais as pinturas rupestres continuem essa prática.

                                          C. Marciano da Silva


segunda-feira, 28 de abril de 2014

IX CONGRESSO NACIONAL DE CIENTISTAS EM ACÇÃO


Cientes da importância fundamental que as ciências e as tecnologias atingiram nos dias de hoje para o desenvolvimento da sociedade, o Centro Ciência Viva de Estremoz e a Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora em colaboração com o Município de Estremoz, dinamizam o IX Congresso Nacional dos Cientistas em Ação. Uma atividade que permitirá a todos os participantes experimentarem, de uma forma adaptada ao seu nível, como a Ciência é feita.
O IX Congresso Nacional Cientistas em Ação acontece dias 8, 9 e 10 de maio, nas instalações do Centro Ciência Viva de Estremoz. O dia 8 é dedicado ao 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico; o dia 9 ao 3.º Ciclo do Ensino Básico e o dia 10 ao Ensino Secundário.
Acompanhados pelo professor, os alunos apresentam e defendem o seu trabalho experimental desenvolvido em ambiente escolar, perante cientistas convidados e outros elementos ligados à ciência e ao ensino experimental, tal como num verdadeiro Congresso Científico.

O empenho e dedicação são reconhecidos através da atribuição do 1.º, 2.º e 3.º lugares aos alunos participantes, professor acompanhante e respetiva escola. Estes são ainda complementados com apoios materiais (kits científicos, vouchers, consumíveis para experiências/maquetas, equipamentos digitais, entre outros), entrega de certificados, menções honrosas e troféus pelos vários níveis de ensino. Os projetos a elaborar devem estar relacionados com a temática geral do funcionamento do nosso Planeta e, considera-se que este Congresso é uma ótima oportunidade para divulgar, incluindo a outras comunidades escolares o trabalho que se realiza na sala de aula ao longo do ano letivo.

NOTA DO GESTOR DO EDUCOLOGIA:

No dia 8 de Maio estará presente no Congresso o nosso colaborador, Professor Doutor Galopim de Carvalho, o qual dará o seu nome ao prémio que distinguirá os concorrentes dos 1º e 2º ciclos.

sábado, 26 de abril de 2014

EMENDA


Erros grandes e pequenos
iguais foram ao nascer.
Nunca é algo de somenos
tal em conta sempre ter.

Basta estarmos descuidados,
logo passam a crescer.
Uma vez enraizados,
mais problemas vai haver.

Pra que sejam corrigidos,
antes de mais, se reconheçam,
passo este requerido.

Para tal, que sejam tidos
quais lições e estas cresçam.
Reciclagem faz sentido.


                                             João d’Alcor

quinta-feira, 24 de abril de 2014

25 DE ABRIL: O QUE SE DESEJAVA QUE FOSSE UM PROFESSOR DO PRIMÁRIO



            Nada na escola é neutro. Os alunos aprendem coisas que ultrapassam aquilo que lhes é ensinado pela via institucional. E essas aprendizagens têm a ver com múltiplos factores: modos como os alunos se relacionam; modos como os professores se relacionam com os alunos dentro e fora da sala de aula; hierarquias explícitas e implícitas dentro da escola; expectativas em relação aos alunos; formas de participação dentro da escola; interacções da escola com o meio envolvente e com a comunidade em geral…
São todos estes relacionamentos, expectativas, interacções e vivências, não explicitados nos manuais ou programas, que ajudam a construir conhecimentos, valores e motivações e que adquirem uma importância, por vezes maior do que expressamente está estatuído através dos programas. É o currículo oculto que, fundamentalmente, define uma cultura organizacional e que, numa escola de formação de professores, como a Escola do Magistério Primário, iria assumir uma importância maior.   
            Seria, pois, a partir deste tipo de currículo mas, também, de um novo plano de estudos, com a criação de novas disciplinas, extinção de outras e na reformulação de algumas que já existiam, que se pretendia construir uma concepção diferente de professor do ensino primário; a ele iria pedir-se o desempenho de um conjunto de papéis, na sua prática profissional, que ultrapassasse o simples dar aulas, intervindo nas condições exteriores de modo a proporcionar à criança o ambiente mais adequado ao seu desenvolvimento.
            Desejava-se que ele não se limitasse a ser um mero observador de situações desfavoráveis, mas que tentasse, também, encontrar soluções. Queria-se um professor do ensino primário que fosse, também, um obreiro social não só junto dos pais mas, igualmente, junto das populações, principalmente aquelas situadas mais no interior ou que mais isoladas se encontrassem. Uma utopia ou uma realidade alcançável?


                                                                                                 Mário Freire 

terça-feira, 22 de abril de 2014

O HÁBITO DE SER FELIZ (2)


A neurociência já revelou que o nosso cérebro é ‘plástico’, isto é, é maleável e está em contínuo desenvolvimento ao longo da vida. Esta nova perspectiva vem então reforçar a convicção que é possível reestruturar hábitos e alimentar aqueles que nos proporcionam bem-estar e contribuem para a nossa felicidade.
Sentir emoções fortes é importante, mas a felicidade não se resume a momentos de intensa alegria. Há outras fontes para desenvolver o hábito de ser feliz, nomeadamente nutrir atividades ou atitudes que fazem sentido à nossa vida, que nos dão um propósito. Para isso, há que saber o que queremos na vida e o que não queremos, e ter a autodeterminação para lutar por isso de forma consciente, autónoma e responsável. A este ponto, já metade da capacidade de sermos felizes está nas nossas mãos.
Tal como qualquer hábito, quanto mais o praticamos, mais fácil e automático se torna. Assim, há alguns hábitos que contribuem para a felicidade das pessoas, sendo um dos quais a gratidão. Através da gratidão reforçamos as coisas boas que nos acontecem, contrariando assim a natureza do cérebro para se focar nas coisas negativas em primeiro lugar.
Ao lembrar constantemente as situações positivas, o cérebro, sendo plástico, habitua-se a ‘pensar’ da forma como o direcionamos. Quanto mais se faz isso, mais ele automaticamente se manifesta positivamente. Podemos começar por pequenas coisas: quanto mais as repetirmos, mais se tornam espontâneas e mais facilmente damos o passo seguinte.
Há outros fatores que contribuem para a felicidade, como é o caso de ter um cérebro com uma maior ativação na parte esquerda. Mas também isso é possível alterar através da meditação, por exemplo. Vemos então que o hábito de ser feliz está mesmo nas nossas mãos!
(continua…)

                                                  Rossana Appolloni



domingo, 20 de abril de 2014

INSIGNE BOTÂNICO E GRANDE SENHOR DA PALAVRA


Meu par na direcção do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, o Prof. Fernando Catarino, ainda bem activo em múltiplas acções de cidadania, é, de entre os universitários que conheço, um dos que guardo no cofre das boas memórias. Foram 50 anos de convívio profissional e de companheirismo nas lides pela vulgarização do conhecimento científico que protagonizámos neste Portugal sempre adiado, eu, como de costume, falando de pedras, e ele, de tudo o que tem a ver com árvores e florestas, jardins e flores, das rosas às papoilas.
Uma das muitas vezes que, como simples participante interessado em aprender, acompanhei este grande comunicador científico, foi “Onde a Terra se acaba e o mar começa”, como escreveu Camões no Canto III de Os Lusíadas, ou seja, na ponta mais saliente do promontório que marca o extremo ocidental da Serra de Sintra, a que os homens do mar chamavam o “Focinho da Roca”. Com ele desci a falésia no sítio do farol, um escarpado que permite observar aspectos particulares da intrusão magmática que elevou esta “jóia da petrografia”, como se lhe referiu o Prof. Alfred Lacroix, ilustre petrógrafo francês que lhe dedicou particular atenção.
Mas não foi para observar as rochas que descemos até o mar. Fomos em busca da Armeria pseudoarmeria, uma espécie rara de dicotiledónea, da família das plumbagináceas, que ali floresce a um dado nível da estratificação florística presente. Já não recordo a altura do ano dessa memorável excursão. Só sei que, no regresso, a subida foi lenta e ofegante, sob um calor intenso, o que não impediu o professor de falar, descrever, comentar, explicar um pormenor aqui e ali e, até, lembrar Lord Byron, o poeta inglês da viragem do século XVIII ao XIX, que se referiu a esta serra como um “Éden Glorioso”, considerando-a, deselegantemente, uma pérola lançada a porcos.
A elevada sensibilidade poética deste meu amigo, revelou-se-me numa das primeiras saídas de campo que fizemos juntos. Foi na Arrábida, mais precisamente na Mata do Solitário. Aí, numa pausa que fizemos junto de uma Pistacia lentiscus, a vulgar aroeira, o mestre abriu a sacola e retirou, lá de dentro, um livro de poemas de Frei Agostinho da Cruz (1540-1619), frade e poeta que viveu ali, no convento dos Capuchos. De seguida, leu alguns sonetos para o grupo de acompanhantes deliciados com aquele outro talento do insigne botânico.
A última das várias oportunidades em que tive o prazer de o acompanhar, foi no parque anexo ao Palácio da Pena, em Sintra. Estávamos em Agosto. Os cimos da serra permaneciam envoltos numa nebulosidade fresca, a contrastar com o azul celeste e o calor estival da planura que se estende a Sul da pequena montanha. Contagiado pelas suas explicações, esta preciosa mata, enriquecida por árvores centenárias e exóticas, afigurou-se-me uma sinfonia de troncos e folhagens verdes embaladas num vento leve.
Para os que tiveram o privilégio de lidar com ele, o Catarino, na gíria dos alunos, ou o Mangas, para os amigos mais chegados, é uma mistura alegre e contagiante de simpatia, humanidade e sabedoria.

                                Galopim de Carvalho


sexta-feira, 18 de abril de 2014

CONTRIBUIR PARA A PROTECÇÃO DO AMBIENTE


O ambiente tem sido a grande preocupação de todas as comunidades nas últimas décadas, seja pelas mudanças provocadas pela acção do homem na natureza, seja pela resposta que a natureza dá a essas acções.
As pessoas já se consciencializaram que os recursos naturais são finitos e que a sua não preservação ameaça o futuro das novas gerações. Tornou-se evidente, também, que é necessária uma grande quantidade de recursos naturais para mantermos o estilo de vida actual. Esta exige um alto nível de conforto que só pode ser oferecido com o comprometimento da qualidade ambiental do nosso planeta.
            Para isso, é também necessário impedir ou reduzir as emissões de poluentes. A poluição verifica-se quando substâncias perigosas são lançadas no ar, nos rios ou no mar, contaminando não só os meios em que se encontram, como também os animais e as plantas.
Pode surpreender, mas a digestão das vacas pode ser prejudicial para o ambiente; há produção de grandes quantidades de metano, um gás 23 vezes mais poderoso que o gás carbónico, como causa do aquecimento global. Supõe-se que uma vaca produza entre 200 a 500 litros de metano por dia. Como reduzir este valor? Modificando a alimentação do gado, o que não é fácil, por ocasionar despesas acrescidas para os criadores.
Um fenómeno idêntico ocorre nos aterros sanitários. Todavia, neste caso, o gás produzido (biogás), com elevada percentagem de metano, poderá ser recolhido e armazenado. É usado quer em aquecimento doméstico, quer em aquecimento industrial.
Não há produção de energia sem que haja impacte ambiental. Este poderá ser minimizado se usarmos fontes de energia renováveis, tais como painéis solares ou turbinas eólicas. O mesmo sucede com os transportes que emitem para a atmosfera não só gases tóxicos como, também, finas partículas, muito prejudiciais em especial para quem sofra de doenças respiratórias.
O Protocolo de Kyoto obrigava, apenas, os países desenvolvidos a reduzir as emissões de CO2. Entretanto, hoje verifica-se que os países em desenvolvimento, encabeçados pela China que é o maior emissor mundial de CO2, são responsáveis por uma elevada percentagem dessas emissões.
Será um desafio para todos os países, colaborar no sentido de reduzir as emissões de poluentes. Só existe um planeta Terra. É altura de actuar.
                              
                                 FNeves


quarta-feira, 16 de abril de 2014

25 DE ABRIL: AS "NOVAS" ESCOLAS DO MAGISTÉRIO PRIMÁRIO


         As Escolas do Magistério Primário, até à Revolução de Abril, davam corpo a um sistema de formação de professores onde a ideologia do Estado Novo, com todos os seus valores e contra-valores, estava bem patenteada. Por isso, os novos detentores do poder, naqueles primeiros tempos de Abril, as elegeram como um dos alvos prioritários.
Pretendia-se, então, alterar profundamente não só o funcionamento dessas escolas como, também, a estrutura curricular do curso nelas ministrado. Desejava-se que elas fossem as formadoras daqueles que seriam modelos importantes das futuras gerações. Os professores delas saídos, espalhando-se por todo o País, indo até ao local mais recôndito, contactando com os pais e as populações, deveriam ter o encargo de ser o gérmen de um novo País, com uma nova mentalidade.
Não foi por acaso que a substituição de todos os seus antigos directores decorreu de um mero acto administrativo. Por isso, as Escolas do Magistério Primário foram as únicas instituições de ensino em que vigorou a nomeação governamental da figura do director, logo após a Revolução, ao contrário do que estava a ser levado a cabo nos ensinos preparatório, secundário e superior, para que os novos directores, tendo a confiança política do poder, pudessem levar a cabo as reformas que se julgavam necessárias, tendo em vista a formação de um novo professor.
Houve, pois, uma certa incoerência formal entre a urgência da democratização do sistema de ensino e a ausência de uma qualquer eleição que tivesse sufragado a direcção destas escolas.
Passados que foram 40 anos, o que resta das acções que tentaram dar corpo a esses ideais, alguns rondando a utopia, de fazer da escola e do professor do ensino primário um elemento de vanguarda para a transformação da sociedade?


                                    Mário Freire

segunda-feira, 14 de abril de 2014

EMANCIPAÇÃO


Dentro o pinto quebra o ovo,
dele sai e põe-se a andar.
Deixe o ninho quem é novo,
mal tenha asas p’ra voar.

Parte faz da educação
um princípio de mor monta:
É a emancipação,
sempre obtida à própria conta.

Nunca é facto consumado
ser de todo emancipado:
O processo é permanente.

Siga o caso apontado
desse pinto denodado
quem, de facto, quer ser gente.


João d’Alcor

sábado, 12 de abril de 2014

ARTE E FELICIDADE


Várias experiências no campo da psicologia e da neurologia têm contribuído para o estudo da relação entre o prazer proporcionado pela contemplação de uma obra de arte e as reações do sistema cerebral humano. As conclusões vão no sentido de que a apreciação da beleza e da harmonia favorecem o trabalho do chamado circuito de recompensa do sistema nervoso central. Este circuito, relacionado com o comportamento emocional, encontra-se numa zona cerebral associada às sensações de prazer. A ativação deste circuito e dos respetivos neurotransmissores é essencial à nossa capacidade de satisfação.
Com base nestas conclusões, foi realizado um inquérito em França no sentido de avaliar como as pessoas que frequentam os museus e outros locais de exposições públicas reagem à relação com a arte. Como resultado, 86,6% dizem sentir-se felizes depois de visitar um museu ou uma exposição e 79,4% afirmam que a contemplação de uma obra de arte alivia o stress e acalma. Tomando em consideração várias idades e categorias socioprofissionais dos inquiridos, constata-se que a maioria considera a arte um fator de prazer, estímulo mental e de valorização pessoal.
Apreciar obras de arte num museu, ir ao teatro ou ao cinema, assistir a um concerto ou mesmo admirar monumentos são formas de estimularmos a nossa parte emocional através de uma vivência puramente individual e que difere de pessoa para pessoa.
Nem todos nós nos emocionamos com a mesma obra artística, nem a intensidade é igual. O importante é descobrirmos o que nos toca e alimentarmos essa fonte de prazer. A nossa sensibilidade também vai mudando ao longo do tempo e à medida que nos formos nutrindo através da arte, vamos refinando o nosso gosto. Para isso, ao contrário de muitas outras atividades da vida atual, feitas à pressa e sem grande ponderação, a apreciação da arte requer alguma disponibilidade e tempo. Tempo para apreciar, para sentir e para se entregar a uma experiência que nada tem de racional e que tem valor por si só.


                                                Rossana Appolloni

quinta-feira, 10 de abril de 2014

PARA UMA HISTÓRIA DA PALEONTOLOGIA (8)


                                          Alcide d'Orbigny


         Ainda em Inglaterra, o já referido William Daniel Conybeare (1787-1857) foi um dos mais distintos geólogos e paleontólogos do seu tempo. Tendo tomado ordens sacras em 1814, tornou-se pároco de Wardington, perto de Banbury, no condado de Oxfordshire, e leitor em Brislington, nos arredores de Bristol, sendo um dos fundadores, em 1822, do Instituto Filosófico Bristol.
Foi vigário de Axminster e, depois, deão de Llandaff, no País de Gales. Atraído para a geologia, ao seguir as palestras de John Kidd (1755-1851), Conybeare ficou na história da paleontologia pelos inovadores estudos que realizou, na década de 1820, sobre os fósseis de répteis marinhos, nomeadamente ictiossáurios e plesiossáurios, publicados pela Sociedade Geológica de Londres, de que foi um dos primeiros e mais activos membros.
Anos mais tarde, em França, o naturalista Alcide Charles Victor Marie Dessalines d'Orbigny (1802-1857), de projecção mundial na área da paleontologia e da estratigrafia, foi ainda zoólogo com obra reconhecida no domínio dos invertebrados.
Estudou no Museu de História Natural de Paris com Georges Cuvier e viajou durante sete anos pelo continente sul-americano em missão deste Museu, reunindo uma colecção de mais de uma dezena de milhares de exemplares zoológicos e paleontológicos, cujo estudo foi publicado em La Relation du Voyage dans l'Amérique Méridionale pendant les annés 1826 à 1833, em sete volumes e dois atlas. O naturalista inglês Charles Darwin, seu contemporâneo, classificou esta obra como um dos grandes monumentos da ciência. Regressado a Paris, d'Orbigny estudou pormenorizadamente a fauna fóssil do Jurássico e do Cretácico de França e a sua distribuição estratigráfica pelos andares Toarciano, Caloviano, Oxfordiano, Kimeridgiano, Aptiano, Albiano e Cenomaniano. Este volumoso trabalho, no qual descreveu cerca de 3000 espécies e figurou 1000 estampas, foi publicado entre 1840 e 1858, em oito volumes, sob o título La Paléontologie Française.
No seu Prodrome de Paléontologie Stratigraphique, em três volumes, editado em 1849, descreveu milhares de espécies, com anotações sobre as respectivas posições estratigráficas. Ao estudar a fauna marinha, d´Orbigny interessou-se especialmente por um grupo de organismos minúsculos a que deu o nome de foraminíferos. Seguidor de Cuvier, seu mestre, não aderiu às ideias evolucionistas de Lamarck. Permanecendo fiel ao catastrofismo, defendeu a ocorrência de múltiplas criações ao longo do tempo geológico, terminadas por cataclismos.
A “Colecção d’Orbigny”, com cerca de 100 000 exemplares, é um dos mais valiosos patrimónios do Museu de História Natural de Paris. Entre esta colecção merece destaque a representação dos briozoários actuais e fósseis, com milhares de exemplares, fruto de uma muito especial atenção que deu a este grupo de invertebrados.
Em 1853, o Museu onde sempre trabalhou, criou a primeira cadeira de Paleontologia, cuja regência lhe entregou, em reconhecimento da sua volumosa e valiosa obra. Quando D. Pedro V de Portugal visitou Paris, d’Orbigny ofereceu-lhe, entre outros materiais, uma magnífica colecção de fósseis que, depois, o monarca mandou entregar no Museu de Mineralogia e Geologia da Escola Politécnica de Lisboa.
Médico inglês, destacado na Índia, Hugh Falconer (1808-1865) é lembrado por ter descoberto o primeiro fóssil de um símio. Os seus conhecimentos de geologia e paleontologia levaram-no a interessar-se pelos Montes Siwalik, no Nepal, e a descobrir aí importantes jazidas fossilíferas de mamíferos do Neogénico.
Regressado a Inglaterra, continuou a fazer as suas investigações geológicas e paleontológicas e a preparar réplicas destinadas aos principais museus da Europa.
Falconer defendeu que, ao longo do tempo geológico, se verificou a existência de longos períodos de invariabilidade da evolução das espécies, alternando com curtos períodos de rápida mudança evolutiva. Esta visão antecipou de um século a Teoria do Equilíbrio Pontuado, proposta em 1972 pelos paleontólogos Niles Eldredge (1943-) e Stephen Jay Gould (1941-2002), que, no pensamento destes norte-americanos, se afirma que a maior parte das populações de organismos de reprodução sexuada experimentam pouca mudança ao longo do tempo geológico e que, quando ocorrem mudanças evolutivas, no fenótipo, elas se dão de forma rara e localizada, em eventos rápidos de especiação.

                                           Galopim de Carvalho

  

terça-feira, 8 de abril de 2014

domingo, 6 de abril de 2014

EMANAÇÃO


Quer o sol, a nossa estrela,
luz nos dar mediante a lua.
Tem ele tanta, a não contê-la,
e sabe esta não ser sua.

Espelhada no seu rosto
que a sabe transferir,
brilha ela, após sol-posto,
sendo que ele vai dormir.

Luz do sol é o luar.
Esse espelho que seduz,
a emana e não retém.

Tem o dom de irradiar
quem, no brilho, serve de luz,
sem negar de onde ela vem.


João d’Alcor

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O SIMBOLISMO DA ÁRVORE


As Nações Unidas deliberaram que no dia 21 de Março de cada ano fosse celebrado o Dia Internacional das Florestas. Esta decisão tem como objectivo principal chamar a atenção das novas gerações para a importância que a árvore desempenha nas nossas vidas. Sem as florestas a humanidade não podia subsistir. Elas contribuem para o equilíbrio na Natureza e lutar contra a desflorestação é lutar pela sobrevivência.
Talvez por isso, os políticos da I República quisessem associar aos valores que eram apregoados, como o do amor à Pátria, o de uma maior instrução para as populações, o da fraternidade, o da regeneração da sociedade.
A Festa da Árvore vinha dos tempos da Monarquia e tinha sido divulgada pela Maçonaria. Ora, a República viu nela um símbolo que poderia ser aproveitado para divulgar as novas ideias e galvanizar as populações para uma nova maneira de estar na sociedade. Por isso, os vultos republicanos deram grande ênfase a esta iniciativa. Em contrapartida, as forças que se opunham ao novo regime viam nestas comemorações uma forma de divulgação do novo ideário. Ela, no entanto, constituiu, entre 1913 e 1917, um acontecimento de natureza cívica e democrática, realizado em todo o País e reunindo todos os grupos sociais. A partir desta última data, ela foi-se realizando esparsamente até 1936.
Nesta Festa eram reafirmados os novos símbolos, como a bandeira e o hino, e realçada a importância da escola na formação do carácter e no amor pela Natureza. Ela deu azo à criação da Associação Protectora da Árvore que contribuiu para o desenvolvimento florestal do País. Esta Associação promoveu conferências, plantações comemorativas, publicação de artigos de jornal, classificação e protecção das árvores notáveis. De salientar, ainda, as Conferências Florestais que tiveram lugar em 1914, 1915, 1916 e 1917, tendo constituído um incentivo para a arborização das dunas do litoral e do interior montanhoso.
A Árvore e a Floresta, contudo, encontram-se acima de quaisquer conotações que se lhe queiram colar. Celebremos, então, a Árvore e, se possível, com a participação dos mais novos, porque ela significa vida e esperança!

                                           Mário Freire

quarta-feira, 2 de abril de 2014

GREAT DREAM (2)



O movimento Action for Happiness desenvolveu um estudo científico cujo resultado apresenta os 10 pontos que mais contribuem para uma vida mais feliz. Os primeiros 5 (GREAT) relacionam-se com a interação com o mundo exterior e os outros 5 (DREAM) dependem exclusivamente da nossa atitude perante a vida. Já vimos os primeiros 5, vejamos agora os outros:
DIRECTION = DIREÇÃO (ter objetivos): sentirmo-nos bem relativamente ao futuro é importante. Todos precisamos de objetivos que nos motivem e têm de representar um desafio que nos entusiasme, mas que seja alcançável. Escolher metas ambiciosas mas reais dá uma direção à nossa vida e uma grande satisfação quando as realizamos.
RESILIENCE = RESILIÊNCIA: todos temos momentos de stress e de fracasso, mas a forma como reagimos cria mais impacto sobre nós do que o evento em si. O que nos acontece pode não depender de nós, mas a forma como reagimos sim. E esta é uma parte que se pode melhorar.
EMOTION = EMOÇÃO: as emoções positivas (alegria, gratidão, inspiração, orgulho, etc.) não são apenas momentos, mas repercutem-se numa espiral ascendente que nos ajuda a construir os nossos recursos internos. Ver o copo meio cheio também se treina!
ACCEPTANCE: ACEITAÇÃO: ninguém é perfeito, mas muitas vezes comparamo-nos com os outros. Focarmo-nos no que não temos em vez de nos focarmos no que temos dificulta o processo de felicidade. Sermos tolerantes para connosco próprios quando as coisas correm mal e aceitarmos os nossos limites ajuda-nos a sentirmo-nos melhor connosco e com os outros.
MEANING: SIGNIFICADO (pertencer a algo maior): quem encontra significado e um sentido de missão na própria vida é mais feliz, pois consegue tirar proveito de tudo o que acontece e sente menos stress, ansiedade e depressão. Encontrar um sentido na vida pode implicar ações muito diferentes entre as pessoas mas todas implicam a sensação de algo que nos ultrapassa como pessoas (a chamada transcendência).

                                            Rossana Appolloni